Durante séculos o Cerrado foi considerado uma região pobre em espécies animais e vegetais se comparada a outros biomas no mundo. No entanto, estudos desenvolvidos nas últimas décadas apontam que sua grande variedade de paisagens, entre chapadas e vales, esconde a savana mais rica do mundo em biodiversidade. Estima-se que 5% de todas as espécies do planeta e três em cada dez espécies de plantas e animais brasileiros estejam presentes no Cerrado. É o segundo maior domínio brasileiro, ocupando uma área extensa de aproximadamente 204 milhões de hectares, o que corresponde a cerca de 24% (um quarto) do território nacional, ficando atrás apenas da Floresta Amazônica.
Sua origem é antiga, entre 145 e 65 milhões de anos atrás. Como as outras savanas (leia mais aqui), apresenta vários tipos de solos (em sua maioria pobres em nutrientes), uma disponibilidade de água extremamente variável ao longo da distribuição e queimadas frequentes. As espécies de plantas e animais apresentam adaptação ao fogo (leia mais sobre a interferência do fogo aqui).
O Cerrado vive atualmente forte descaracterização pela expansão desordenada da fronteira agrícola, que já ocupa cerca de metade da região (leia mais sobre a conservação do Cerrado aqui). A organização não governamental (ONG) Conservação Internacional, utilizando o alto grau de desmatamento e alta porcentagem de espécies endêmicas, classificou 35 áreas ao redor do mundo como prioritárias para a conservação, os chamados hotspots mundiais de diversidade. Com suas características únicas, o Cerrado entrou nesta lista, destacando o quanto é importante a preservação deste domínio.
Onde fica???
Ocupa principalmente a porção central do Brasil, e dependendo do limite considerado (saiba mais clicando aqui), ocorre até o litoral do estado do Maranhão, norte do estado do Paraná e abrange pequenas porções da Bolívia e Paraguai.
Este ambiente também ocorrem em outras regiões do país, como enclaves na Caatinga e na região amazônica. Faz parte de uma diagonal de formações abertas, bordeada pela Caatinga a nordeste e pelo Chaco a sudoeste, que forma uma barreira ecológica e biogeográfica entre a Amazônia e a Floresta Atlântica.
Clima
O Cerrado possui clima tropical, marcado por duas estações bem definidas: úmida/chuvosa (entre os meses de Outubro e Abril) e seca (de Maio a Setembro). A precipitação anual (quantidade de chuva) é de 1250 a 2000 milímetros de água. No mês mais seco, a quantidade média de chuva atinge 30 mm, podendo chegar à zero. A temperatura média anual é de 22 a 23˚C, sendo que as médias mensais apresentam pequenas variações ao longo dos meses do ano, podendo atingir temperaturas máximas próximas a 40˚C.
Relevo
A geomorfologia do Cerrado é uma mistura de superfícies velhas e novas, com topografia suave, mas apresentando grandes planaltos e extensos platôs erodidos (chamados de chapadas, com 500-1700 metros de altitude), separados por vales (entre 100-500 metros de altitude) e depressões periféricas, como o Pantanal, e complexo de grandes rios, como o Tocantins, Araguaia e Parnaíba. Um evento geográfico importante para o Cerrado foi o soerguimento (ou seja, a elevação) do Planalto Central, que ocorreu na região de Brasília, estado de Goiás e arredores. Este evento foi o responsável em grande parte pela diversificação do relevo, importante para a evolução da diversidade biológica local no Cerrado.
Fauna
Mesmo com os esforços recentes, a biodiversidade do Cerrado permanece mal conhecida. Estimativas de 1992 sugeriram que pelo menos 160 mil espécies de plantas, animais e fungos ocorrem no bioma. A cada ano, muitas espécies previamente desconhecidas são acrescidas à fauna e flora do Cerrado, indicando que parte significativa da sua biodiversidade ainda está por ser descrita. A diversidade de ambientes do Cerrado está também refletida em sua composição faunística e florística.
São conhecidas cerca de 200 espécies de mamíferos no Cerrado. Ao contrário do que se pensava anteriormente a maior parcela da riqueza de pequenos mamíferos (incluindo boa parte dos endêmicos) está concentrada em ambientes abertos. |
A avifauna apresenta uma alta riqueza (837 espécies), com metade das espécies registradas no Brasil. Há baixo endemismo (3,4%) e aparentemente é fortemente influenciada por intercâmbio faunístico com domínios florestais vizinhos (Amazônia e Mata Atlântica). |
Provavelmente o grupo de vertebrados menos conhecido do Cerrado, estima-se que pelo menos 210 espécies de peixes de água doce sejam endêmicas do bioma, entre as 1300 conhecidas. |
As comunidades de répteis são complexas e ricas, dominadas por espécies de hábitats específicos e com alto grau de endemismo, superior à das aves. Para Squamata, ocorrem 262 espécies na região do Cerrado, incluindo 30 anfisbenas, 74 lagartos e 158 Serpentes, onde ao menos 99 são endêmicas. |
Vinte por cento de todos os anfíbios brasileiros ocorrem no Cerrado, e praticamente toda nova localidade amostrada contém espécies não descritas. Como os répteis, as espécies apresentam alto grau de endemismo e especificidade ambiental. |
O conhecimento faunístico sobre invertebrados é limitado. Estimativas sugerem uma riqueza em torno de 90.000 espécies, sendo que cerca de 13% das borboletas, 35% das abelhas e 23% dos cupins da região Neotropical estão presentes no Cerrado. |
Animais simbólicos do Cerrado são o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), o tatu-canastra (Priodontes giganteusso), o papagaio-galego (Amazona xanthops), a ema (Rhea americana), a seriema (Cariama cristata), o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), a arara-canindé (Ara ararauna), o pica-pau-do-campo (Colaptes campestris), o tiê-do-Cerrado (Neothraupis fasciata), o calango (Tropidurus torquatus) e o teiú (Salvator merianae).
Para conhecer mais sobre algumas destas espécies, clique aqui.
Flora
Quando pensamos na flora do Cerrado logo vem a cabeça uma vegetação esparsa com árvores baixas, retorcidas e de casca grossa. Esta visão não está errada, mas a vegetação do Cerrado e ainda mais variada. Diferenças no relevo, profundidade e tipo do solo e disponibilidade de água variam tanto em nível local como regional e influenciam a estrutura da vegetação. Esta grande variedade de ambientes é refletida no grandioso número de plantas vasculares (plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas e cipós) presentes no Cerrado, ultrapassando 7 mil espécies, sendo a savana mais diversificada do mundo, com 44% endêmicas. Para conhecer as fisionomias do Cerrado do Brasil (cerrado sensu stricto, cerradão, campestre, floresta de galeria e cerrado rupestre) clique aqui.
Exemplos de frutas nativas do Cerrado são o pequi (Caryocar brasilense), mangaba (Hancornia speciosa), araticum (Annona coriacea) e buriti (Mauritia flexuosa).